sexta-feira, 1 de junho de 2007

Verborragia cotidiana em um tranquilo domingo caótico

Manhã de domingo. Lá fora, todo frio de São Paulo. Correr? Agora? Afundo ainda mais no edredon. Boa sorte. Viro pro lado, mas é tarde pra tentar dormir de novo, meu talento especial pra encontrar objetos perdidos (ou apenas guardados) é solicitado. Meu marido parte pra corrida, eu parto para um café, sem leite e sem açúcar, aliás, sem pão e sem graça, carboidrato só na terça, maldita dieta. Vou pra sala, ligo o computador, Graciliano Ramos. Eu já sei um pouco sobre ele e suas Vidas Secas, e também fascina-me a cachorrinha Baleia, mas meu aluno ainda não, então vamos lá.Uma página, uma única página, milhares de idéias e uma mísera página, mas quem disse que elas querem vir pro mundo? Ligo a TV, desligo a TV, ligo e desligo o som, passa-se um par de horas... nada. Pior que não saber o que escrever é não conseguir escrever o que se sabe. Resolvo dar um tempo e respeitar o timing das minhas idéias. Lavo a louça do café, arrumo a cama... concluo que o melhor é começar de novo. Tudo muda após um banho escaldante. Espelho, engordei, um único deslize nessa dieta insana... devia ter ido correr. Olho o shampoo da promoção, meu cabelo nunca foi muito amigo de produtos promocionais, mas há momentos em que é melhor aceitar o caro barato do que comprar a briga, só hoje, mais tarde resolvo. Vou ao espelho e vejo meus olhos ainda inchados pela noite longa de sono profundo e idéias oníricas e barulhentas, não importa, lentes de contato. Decido deixar de lado o moletom confortável e opto por algo menos macio, talvez o conforto da roupa contribua para que as idéias não saiam pro mundo. Encontro a roupa menos confortável, está amassada. Será que Levi Strauss passava suas roupas antes de ir pro caldeirão? Descubro que a roupa menos confortável que já não está mais amassada está larga, a dieta está funcionando. Meu cabelo... em meia hora verei os efeitos do shampoo promocional. Agora, outro café e Graciliano... mas meu marido chega com vídeo clipes bizarros, We’re the world e as vidas secas esperam de novo. Fim, voltemos ao realismo.
Volto ao computador, pego meu café, ligo o som, e começo de novo. Penso em tantas coisas ainda, que é difícil me concentrar na cachorra de Fabiano, só uma página, já escrevi dezenas sobre isso, por que uma está sendo tão difícil? E ainda tem a Alice, o Gato, o Chapeleiro... as idéias estavam prontas mas se perdiam na ponta dos dedos. Vamos almoçar, não é que todo mundo teve a mesma idéia? Prometo pra mim mesma nunca mais pisar em uma praça de alimentação de shopping center, mas ontem disse a mesma coisa e cá estamos nós: eu,meu grelhado e minha salada sem crouton procurando uma mesa. Mais um café e invento querer um vestido daqueles que só existem na minha imaginação e meu marido adora porque sabe que não encontrarei nesse mundo. Vou embora sem o vestido. Supermercado, a melhor opção possível vem da terra de seu George, abstraio de questões da política externa e sigo as compras. De volta pra casa e pra Graciliano, agora não tem mais jeito. Ouço apresentadores dominicais na TV, demais pra mim, mudo de lugar, respiro e consigo algo, desorganizado, mas ali está, amanhã ajeito. Missão quase cumprida. Agora só preciso esperar ansiosamente o fim do domingo, há tanto a ser feito, dito, escutado na segunda-feira. Espirro essa crônica pela ponta dos dedos e penso em dormir, amanhã ajeito essa também, penso em mais um punhado de coisas que não consigo silenciar e sei que vou dormir pensando, acordar pensando, sei que amanhã é outro dia ... e ainda estarei pensando.

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