quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pseudo - concretismo

"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."
(Mário de Sá Carneiro)

Percebo-me mergulhada em experiências líricas e ferida pelo concreto. O amor resolve a alma mas é poroso demais para solucionar a vida toda. Assim também segue a poesia. Entendo que preciso caminhar pelas pedras, sentir o chão firme sob meus pés, construir minha estrada. O universo prático convoca-me a recriar o que sou, uma nova personagem. Teimo em acreditar nas novelas de cavalaria, já é hora de entender que há quase nada de medieval em mim ou, pelo contrário, avaliar minha relação com as moças queimadas nas fogueiras: minha idéia endureceu e o dia amanheceu nublado. O céu azul se foi, talvez por ter-me feito entender que devo saber seguir só. Minhas alfazemas cresceram buscando o sol, entortaram suas frágeis hastes mas agora o astro se foi e elas precisam prosseguir. Ele voltará na próxima estação, até lá, qual a direção? Elas devem saber pois suas folhas ainda perfumam, seria esse o caminho? Ainda acredito no amor e na poesia: minha alma precisa deles. Mas minha vida precisa de mais. É grandiosíssimo possuir a alma lírica e essa sinto minha, nesse momento, entretanto, o corpo faz falta, a parte real que ajuda na pavimetação. Compreendido isso, tudo fica mais claro e menos belo. O coração desarmado dá lugar a mãos guerrilheiras. Minha doce clausura de princesa começa a ruir. Daqui para frente, sou eu, como sempre fui de fato, mas nunca quis ver apesar dos avisos. Nada é por ninguém, nem erros, nem acertos, nenhuma decisão: tudo é por mim. Implacável, a realidade salta diante de meus olhos e prova que só o que pertence a ela é o que de fato existe, todo o resto é o escapismo tão necessário quanto uma taça de Bordeuax após um duro dia de trabalho ou férias em Paris coroando um ano cheio. Sim, pode-se mudar a realidade e encontrar prazer em um cacho de uvas no café da manhã ou degustar Villon em um dos museus da cidade. A questão é definir o que realmente queremos. Se quisermos. O céu, porém, começa a se abrir novamente, revelando sua imensidão azul.