segunda-feira, 9 de março de 2009

Após o crepúsculo

Escurece. A razão escurece. Um arrepio irracional domina a lógica inconstante. Por que os medos são tão maiores à noite?
Desde a infância ela nos assusta: temos medo do escuro, dos pesadelos, de ficar só. É seguro o dia, sabemos exatamente o que há em nossa frente, não há mistério, pouco se esconde; pode-se correr em direção ao abismo e parar antes da queda. A luz controla os riscos. A escuridão, porém, catalisa-os. Ali nada é nosso, tudo é segredo e qualquer passo pode encontrar o vazio. No escuro, nossos doces brinquedos tornavam-se monstros; no escuro, nosso futuro perfeito torna-se nebuloso, da escada que a ele conduz só enxerga-se o primeiro degrau, depois dele ascensão, decadência ou abismo são possíveis.
No meio da noite, ouve-se a angústia de uma mulher. Sozinha à beira de seu iminente abismo, ela chora como criança, seu corpo faz-se pequeno, frágil, tentando talvez voltar ao tempo que o medo passava ao acender as luzes. Nunca sentira tanto medo. Todos os caminhos conduziam a incerteza, poderia doer, poderia doer mais e, nesse momento, seu mundo depende dela. Não há algozes, não há culpados, só ela e sua sorte com medo de olhar-se nos olhos.
Dessa vez, ninguém a salvaria. Ela já entendera a distância entre seu mundo e os contos de fadas. Não havia heróis tampouco donzelas a serem resgatadas, nem cavaleiros ou princesas. Havia uma mulher, apavorada diante de uma dor que não podia controlar; diante do amor que não podia suportar.