segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pseudo-poética

"Mas tu, Poesia Tu desgraçadamente Poesia

Tu que me afogaste em desespero e me salvaste

E me afogaste de novo e de novo me salvaste e me trouxeste

À borda de abismos irreais em que me lançaste

e que depois eram abismos verdadeiros"




Lendo Leminski, ouvindo jazz, pensando Vinícius, sentindo Clarice, vivendo Hilda. São tantos e eu o que sou? O que fiz de mim nessa desconstrução do que seria se tudo fosse outro, se eu fosse outra e construísse, ao invés de apenas tentar embelezar o que já está feito, se criasse e não rebordasse o óbvio, o nulo, o pequeno. O que fiz de mim senão a sombra de tantos desejos que eu não tinha e tantos medos que hoje tenho? Para onde devo ir senão lugar algum, já que cá estou e nada dentro de mim grita de modo que eu possa ouvir? Ou já cessaram os gritos tantas vezes ignorados pelo conforto risível da nulidade primorosa. Agora quero ir correndo, sem caminho talvez, pois os que havia, e eram tantos, ficaram para trás, aí pelas paragens. Conservo, ainda assim, o hábito nocivo da sombra salvadora que nada faz senão embotar ainda mais minha já difícil caminhada. O que pretendo de mim é o que não sei ser pois, por Deus, eu seria se o soubesse, mas não devo saber porque construí a fraqueza de onde havia força. Sei que olho ao redor e vejo-me só entre música e poesia, entre gênios e ícones e sou eu o que em meio a isso? Sombra como a sombra em que me escondo. Medíocre poesia velha que não tem mais idade para germinar e teima em pensar que ainda há razão para gritos bardos a essa altura do mundo e dos acontecimentos.


Tento ainda fazer a poesia germinar mas não há ouvintes para o que julgo belo, belo e vazio como foi minha vida fundamentada. Ser amoral em busca de uma moralidade burra, quase esquizofrênica quando não há mais tempo pra nada. Meus sonhos estão perdidos e perdidos para sempre pois nunca soube sonhar sozinha e como haveria de poder fazê-lo agora se nunca soube ser sozinha? Finjo que posso, finjo que sei, mas finjo e ainda assim, penso-me grandiosa pois Pessoa também pensou e era grande, brilhante, gênio, eu, entretanto, sou meramenta pós-moderna e não sou nada pois toda a genialidade do mundo já fora concedida, de modo mais ou menos justo, a seus criadores, agora sou cópia de tudo o que eu queria e tudo o que eu rechaçava; mas eu, eu mesma, sou coisa alguma. Esboço malfeito de todos os meus propósitos. Massa frustrada e cansada, sombra incolor.

Fragmento de caos II

Manhã cinza, cor da cidade e de minha alma sem paz. Sinto frio, muito mais do que a temperatura amena, muito mais que a garoa, sinto frio e minha pele se arrepia apesar do ar quente que quase faz suar quando me protejo do mundo dentro da cápsula de metal vermelho onde habita minha alma em seus momentos mais ruidosos. O frio se dá como um bloqueio, inexplicável, embotamento dos desejos. Até dos desejos. Tento fazer-me sublime mas sou humana e com ressalvas. Não sei se gosto de adorar-me mundana. Não sei se gosto mesmo de inúmeras coisas que tenho vontade (ou talvez meramente cobice...). E ao ouvir que vivo de caprichos, como exaltar-me ou negar (por capricho...).