sábado, 22 de agosto de 2009

Lucíola

"Incompreensível mulher!
A noite a vira bacante infrene, calcando aos pés lascivos
o pudor
e a dignidade, ostentar o vício na maior torpeza do cinismo, com toda a hediondez de sua beleza.
A manhã a encontrava tímida menina, amante casta e ingênua,
bebendo num olhar a felicidade que dera, e suplicando
o perdão da felicidade que recebera."
(José de Alencar)




As revoluções aconteciam sem que a humanidade pudesse controlá-las. Era uma época difícil em que vagávamos um tanto tontos pela vida imersos em planos e metas de proporções estratosféricas, movidos pelo desejo em todas as suas formas. Andávamos por ali consumindo a vida e a nós mesmos como fantoches pseudo-libertos. Caminhávamos, ou melhor, corríamos, e até sabíamos a direção, mas faltava propósito, aquele apaixonado propósito revolucionário que conhecíamos bem das referências históricas e dos desejos utópicos, vez ou outra, vinha alguém dizer que estava lá, acreditávamos pois duvidar não tinha o menor cabimento.

Em um desses dias, plenos do vazio sistemático da lógica contemporânea, ela apareceu e disse conhecer o amor. Como acreditaríamos naquela mulher com olhos de menina que sorria com lágrimas nos olhos ao falar de seus sonhos e admitia o paradoxo de amar e sofrer com tamanha naturalidade e resignação que a dor tornava-se bela? Como duvidar da languidez mais forte e profunda que qualquer olhar poderia carregar? Naquele dia, apaixonamo-nos novamente por nossas vidas, por nossas histórias, por nossos amores. Ela sorriu e partiu. Retornava aos braços de seu velho conhecido. Retornava, satisfeita, a seu lugar, a seu destino. C(h)ega de tanta luz.(!)