quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Neo-clássico pós- moderno

Em um momento, nada propício, lembrei-me de Nietszche e seu “amor fati”. Gastamos a vida tentando consertá-la, procurando outra para amarmos, e ela passa. Meteórica e fria, a vida não se importa com nossas buscas. Corre blasé, regada a dry martini, pisoteando com seu salto agulha qualquer espectro dubitavelmente poroso que haja em nós.
Na densa luta por nossos ideais, corremos atrás da glória da discordância. Luta em glória. Lógica platônica. Não somos o que queremos ser, tendemos a ser apenas o contrário do que esperam que sejamos.Ainda que a resistência não se dê de modo efetivo, alimentamo-na dentro de nós, operando em um universo de anarquismo niilista.
Até a lógica existencial se perfaz da distorção subjetiva: engendramos uma existência lacônica sobre prolixas faláceas psicologizadas do ser.
O amor, pobre, amor, perde-se em meio ao redemoinho de lógicas de banca de revistas, que propõe razões para sentir e desfaz sua mais profunda dimensão, que é ser. Um dia ouvi um discurso sobre a grandeza do amor estar em amar-se apesar dos acontecimentos; não, a grandeza do amor está em amar, sem pesares a pesar. O amor extingue pesares, amando tudo são belas verdades reais e não fantasiosos ressentimentos construídos. Se é posta a possibilidade do pensamento sem vírgulas, proponho, aqui, amar sem vírgulas. Não pensar em planos, amar somente. Despudoradamente. O que o outro vai pensar? Se o amor tiver dois pólos, não pensará nada além da beleza de um sentimento inteiro e recíproco. Entretanto, se a dose de reciprocidade for menor, cabe a nós compreender e ponderar a grandeza de nosso próprio sentimento. Pois, se pensarmos em uma cor para o amor, ele deve ser verde, organismo clorofilado, só nos cabe iluminá-lo e ele cuida do resto. O amor é organismo produtor por excelência, é ele, em suas mais variadas formas, que mantém o ritmo do universo.