quarta-feira, 4 de junho de 2008

A sublime razão do caos

Agora, como sempre, sinto saudades presas a lógica ridícula do amor: perco o que não tenho e recupero o que nunca ganhei mas, ainda assim, reservo-me o direito de possuir. Não preciso pensar muito para concluir que nada tenho de meu a não ser desejos, idéias e aspirações. Projetos. Pilhas subjetivas de projetos inacabados sem começo. Procuro entre minhas posses bens de terceiros e encontro projetos em andamento, com outros nomes. Separo a vida em alguns pares de esferas coloridas e gasto tempo equilibrando-as, não posso soltar as mãos. Derrubá-las implica coragem de correr atrás de roliças estruturas fugitivas, outros me olhariam, não quero que me olhem. Quero profundamente ser notável anônima.As pessoas me entediam, não quero falar, faculdade hipócrita mal distribuída a tantos que não tem o que dizer. Há poucos minutos, quis chorar, mas não encontrei meu bem perdido e não chorei, mesmo querendo. Não posso chorar sabendo que o que tenho está por aí, pertencendo a quem não sou eu. Escuto passos, escuto tudo. Nesse instante escuto o som de meu objeto perdido, escuto ou crio, nunca compreendo a distinção. Quero anunciar o desaparecimento de um bem inestimável. Chamar a polícia e a imprensa.Quero desesperar-me diante dos que me são caros. Quero incomodar o mundo com meu destemperado surto. Nada faço frente a idéia de querer. Quero encontrar minha jóia, por isso nos temos, o encontro real, propõe perda possível, não encontro, não perco. Quero ainda chorar. guardarei todas as lágrimas para meu amuleto e seu retorno intacto. Perco-me pois tenho a mim, o reencontro, porém, se dá poucos passos a diante.