sexta-feira, 18 de maio de 2007

P.S.

Descobri que Billie Holiday acalma o silêncio.

Poetas de um mundo caduco

Há momentos em que simplesmente não existem palavras. Não que não as encontremos, elas não existem complexas o suficiente para descrever o que sentimos. Talvez seja essa mais uma das inúmeras funções da linguagem: permitir que sintamos até certo ponto, até onde as palavras consigam chegar. Mas e quanto aos que teimam ser poetas ou, mais que isso, teimam ter alma de poeta? Desses, a tal linguagem não dá conta. Deles, ela é amante, a eles, se doa inteira. Assim, brincam com ela, trapaceiam-na, tomam um milhão de palavras para descrever um minuto e uma única para toda a vida, dão voltas no tempo, dão voltas neles mesmos, por luxo, prazer ou por aversão ao caminho mais curto. Dos que tem poesia na alma, poesia transborda, toma-nos de assalto, invade e faz chorar.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Deleuze para Aquino

Preciso de férias em Paris. Preciso ir a Paris porque sou livre para não ir a Paris, ir a Paris porque é necessário ir a Paris é para os tolos que imaginam que precisam ir a Paris. Não preciso de Paris, aliás, que bobagem Paris! Mas eu vou a Paris, não para dizer que eu já fui a Paris, não, vou porque sou independente, moderna, bela e criativa, como Paris. Lá há luz e todos são livres, eu sou livre para não ir a Paris por isso, e só por isso, preciso ir a Paris.

Física - humana, poética - Exata

Tudo o que nos cerca depende de um referencial.Talvez a Física, ciência exata, seja a mais humana delas. Ou o reflexo do ser humano seja exato.Cada sensação que podemos ter sobre o mundo, depende do que vemos em nós mesmos. Fenômenos da Óptica na vida cotidiana. Meios turvos ou translúcidos. Convergências, divergências...Toda a lógica do mundo se encaixa no que há de humano, como a realidade se funde ao sonho compondo projeções oníricas da vida. Os dias de sol ou chuva, são realtivamente belos e depressivos, dependem do que nós somos em cada momento.Momento... novamente o tempo, esse caso sério... espero conseguir compreendê-lo algum dia, espero que ele me entenda... na verdade não espero, pois ele passa e eu acabo não percebendo e o perco, pois esse cavalheiro nunca volta.
Aliás, dois ilustres cavalheiros compuseram, Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, e a voz de Nana, que além de mulher tem o sobrenome Caymmi, eternizou. É isso aí, meu Senhor....

Resposta ao Tempo

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei
Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei
E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer

(mar/2006)

Solicito audiência com o Senhor do Tempo

É interessante notar a infinidade de coisas que podem acontecer em um vago instante. Poucos minutos são suficientes pra mudar uma vida, uma história. Foi assim com toda a humanidade em todos os tempo, é assim conosco. O ser humano nunca mudou. Já pararam pra se perguntar por quê estavam naquele lugar, aquela hora, e aquela pessoa também estava? Ou por quê viram (ou não viram) determinada cena? É estranho e mágico o ciclo da vida, a conspiração do universo pra que encontros, desencontros, reencontros ocorram como deve ser. E, usando palavras que ouvi de alguém, no final tudo dá certo, se não deu certo é porque não teminou. Mal entendidos são explicados, nós na garganta desfeitos e assim segue o mundo, em terreno acidentado.Inesperadamente o passado, sempre presente, mostra que o futuro é a sequência clara do que fomos antes... O fato é que todos os tempos são abstratos. E se unem de modo único e maior. O que é agora, só existe pois houve antes e haverá depois. Toda nossa vida é uma rede impossível de ser desfeita. Todas as pessoas e todos os momentos que vivemos são responsáveis por nosso presente, logo são também responsáveis pelo que virá depois. Tempo... esse ser insano. Gostaria de qualquer dia sentar e ter uma conversa com este Senhor. Entender melhor como ele passa e parece que não passa, ou não passa e parece voar ( voar?). É... alguém mais complexo e inexplicável que eu, o Sr. Tempo. Por hora não quero entender, vou esperar que ele me explique. Por isso mantenho e sigo minha teoria bélico-amorosa, o único tempo que podemos controlar é o presente, que já é passado quando pensamos sobre ele. Talvez a idéia seja não pensar no agora e vivê-lo, pois pensar agora é pensar antes e desfazer o que virá depois. O futuro é belo pois é vago, imprevisível. E não adianta tentar controlá-lo, o futuro é egocêntrico. Agora, não agora, agora, ou em qualquer agora que surja repentinamente como agora, esqueça antes ou depois que o agora se encarrega deles, é só isso que temos: agora. A vida não espera, a felicidade não espera, os sonhos são concretizados sem aviso prévio, agora.... vai!!!!!!!!!!

(mar/2006)

Muito prazer, sou humana

De repente, tudo se torna inerte. Não há paixão, não há conflito, não há remorso. Não, mas não foi de repente, veio aos poucos, numa cadência discretamente triste, samba-canção, bossa-nova, ritmando meu coração e meus passos. Despertando minha face melancólica.Quis aniquilar a dor como sempre fiz, mas não achei comprimido pra dor na alma.Tentei disfarçar, esquecer, decidi seguir com um sorriso no rosto e a força que nunca tive, enquanto dentro de mim surgia um enorme vazio.Também nada se tornou, sempre foi inerte, sempre foi igual. O erro foi meu por buscar sempre a beleza.Talvez toda emoção que pensei ter havido, tenha sido só minha,.Quem sabe nada do que sonhei possa existir.Quem sou eu?Matéria e espírito, é só o que sei.Houve o tempo em que eu sabia quem era, que era forte, capaz,amada, sentia-me plena, meu amor e meu ser bastavam no universo.Hoje nada mais é claro. Penso em mim, numa imagem turva, nebulosa. Talvez não seja capaz, talvez não seja amada, ou talvez tenha entendido tudo errado, desde o começo.Da força,ainda fica um pouco,por isso tento buscar a mim em meio a apavorante multidão de sãos. Seis da manhã, será que é verdade?Ou tudo é culpa do tempo equivocado?Queria passar dias dormindo, protegida, em seus braços.Queria passar horas me vendo em seus olhos, lindos.Queria recordar quem sou, quem é, descobrir quem somos, juntos.Quero passar a vida tentando compreender seu amor.
"As sete letras de Pralini (Spinola/Gueller) davam-lhe força.As seis letras de Ângela (Sílvia) tornavam-na anônima" C.L.

Muito prazer,
Sílvia Spinola Gueller

P.S. Esse texto foi o primeiro publicado em meu antigo blog, não sei se ainda é verdade inteiramente, também não sei se é mentira, mas creio que hoje voltei a ser forte.

Foucault para Aquino

O homem-arquipélago segue confiante de sua importante posição no mundo. O homem-arquipélago se pensa senhor de si, é grande, forte, saudável, bem-educado, cordial, sociável. O homem-arquipélago compartilha com os outros homens-arquipélagos, iguais a ele como um reflexo num raso espelho d’água, os prazeres de sua vida tão plena que os conduzirá a uma velhice tão feliz! Serão velhinhos de rostos simpáticos e corpos ainda fortes, velhinhos bonitos, sem duras marcas do tempo e das lembranças de uma vida de conflitos com a alma e o mundo, terão memórias doces, longas e tão felizes!
Ao cair da noite, cada homem arquipélago fechado em sua suíte numa residência para saudáveis arquipélagos na “melhor idade”, com quadra de tênis e campo de golfe, fecham os olhos vazios e partem silenciosamente, sem afetar a ordem.

Ode à megalópole

Véspera de feriado, final de expediente, meu marido liga transmitindo o convite de um amigo pra uma cerveja. Eu já estou em casa, lá fora o frio absurdo que quando São Paulo quer, São Paulo tem. Jabaquara... atravessar a cidade por uma cerveja... penso que posso pegar uma em minha geladeira e poupar-me do frio, do trânsito, da conta... é, a cidade nos leva a pensamentos egoístas, isolantes. Aceito o convite. Encontro meu marido e descubro que além da cerveja tem também um karaokê. Puxa... depois de ter passado a vida toda batendo o Hanon em cima de um piano, estudando solfejos, teorias, escalas dissonantes nas aulas de canto lírico, isso faz uma parte de mim ter vontade de voltar, mas por outro lado, os karaokês foram a maior forma de socialização do sonho de ser artista. Ora, eu apesar dos anos de estudo, não sou artista, e posso muito bem, como todos os outros cidadãos com mais ou menos cultura musical, pegar um microfone e virar “popstar” seguindo a letra que aparece em uma televisão. Poucos minutos, sim, mas pouco importa o tempo, importa o fato. Penso nisso e sigo adiante. Toca o telefone – celulares, maldição das últimas décadas – uma amiga, convido-a para vir conosco, mas ela está cansada. Eu estou cansada, meu marido está cansado, todos os nossos amigos estão cansados: a cidade está cansada, por isso não anda, com suas artérias entupidas por carros, ônibus, pressa e tédio, então não chegamos. Podemos ligar o rádio e cantar, mas aí a platéia é restrita e a cerveja... agora até a da minha geladeira está distante. Meu marido dirige, já embalado pela cerveja da happy hour (happy hour, mais um fruto cosmopolita; nas pequenas cidades talvez não encontremos uma happy hour, será que é porque lá todas as horas são felizes?) ele dirige e tudo o estressa, ele sempre dirige e sempre se estressa, e sabe disso. Penso em cavar uma discussão e voltar pra casa, a geladeira e a cerveja ainda estão lá, mas lembro das cervejas marcadas com velhos e novos amigos, que ficaram pra depois por algum motivo, a desculpa, minha ou deles, é sempre a vida, a falta de tempo, ou a cidade, por vezes não são desculpas, são fatos, mas nunca saberemos se são ou não verdade, então não falo nada, seguimos em frente, na verdade continuamos parados como tantos outros carros. Penso nos velhos amigos, onde será a cerveja deles hoje? Pra onde a vida os terá levado?