quarta-feira, 16 de maio de 2007

Ode à megalópole

Véspera de feriado, final de expediente, meu marido liga transmitindo o convite de um amigo pra uma cerveja. Eu já estou em casa, lá fora o frio absurdo que quando São Paulo quer, São Paulo tem. Jabaquara... atravessar a cidade por uma cerveja... penso que posso pegar uma em minha geladeira e poupar-me do frio, do trânsito, da conta... é, a cidade nos leva a pensamentos egoístas, isolantes. Aceito o convite. Encontro meu marido e descubro que além da cerveja tem também um karaokê. Puxa... depois de ter passado a vida toda batendo o Hanon em cima de um piano, estudando solfejos, teorias, escalas dissonantes nas aulas de canto lírico, isso faz uma parte de mim ter vontade de voltar, mas por outro lado, os karaokês foram a maior forma de socialização do sonho de ser artista. Ora, eu apesar dos anos de estudo, não sou artista, e posso muito bem, como todos os outros cidadãos com mais ou menos cultura musical, pegar um microfone e virar “popstar” seguindo a letra que aparece em uma televisão. Poucos minutos, sim, mas pouco importa o tempo, importa o fato. Penso nisso e sigo adiante. Toca o telefone – celulares, maldição das últimas décadas – uma amiga, convido-a para vir conosco, mas ela está cansada. Eu estou cansada, meu marido está cansado, todos os nossos amigos estão cansados: a cidade está cansada, por isso não anda, com suas artérias entupidas por carros, ônibus, pressa e tédio, então não chegamos. Podemos ligar o rádio e cantar, mas aí a platéia é restrita e a cerveja... agora até a da minha geladeira está distante. Meu marido dirige, já embalado pela cerveja da happy hour (happy hour, mais um fruto cosmopolita; nas pequenas cidades talvez não encontremos uma happy hour, será que é porque lá todas as horas são felizes?) ele dirige e tudo o estressa, ele sempre dirige e sempre se estressa, e sabe disso. Penso em cavar uma discussão e voltar pra casa, a geladeira e a cerveja ainda estão lá, mas lembro das cervejas marcadas com velhos e novos amigos, que ficaram pra depois por algum motivo, a desculpa, minha ou deles, é sempre a vida, a falta de tempo, ou a cidade, por vezes não são desculpas, são fatos, mas nunca saberemos se são ou não verdade, então não falo nada, seguimos em frente, na verdade continuamos parados como tantos outros carros. Penso nos velhos amigos, onde será a cerveja deles hoje? Pra onde a vida os terá levado?

Nenhum comentário: