quinta-feira, 24 de julho de 2008

A complexa explanação do óbvio

Daria meu reino por saber como traduzir a infinitude de pensamentos que há dentro de mim. Trocaria alguns de meus dias para compreender o que faz o sangue correr em minhas veias, o que instiga as sinapses entre meus dendritos e axônios . Premiaria com três noites no Hôtel Costes qualquer um que pudesse explicar porque o amor teve de ser tão grande e estrondoso. Ressuscitaria Billie Holliday e Dolores Duran para uma profunda conversa sobre os sentidos da dor, regada a whisky sob a aura de fumaça das divas. Convidaria Mr. Hancock e seu chegado, Mr. Gautama, para uma simpática conversa descompromissada sobre seus ofícios. Ficaria só com você ouvindo o mar e contando estrelas às 10 da manhã. Ficaria só por você. Mergulharia em uma multidão para encontrá-lo entre tantos, encontrar-lhe-ia, entretanto. Deixaria de ver pela lembrança de seu olhar. Viveria surda para todos os sons, por ouvir infinitamente sua voz em meu ouvido. Juntaria James Brown e Jorge Ben sem o Jor para nos fazer dançar. Traria Vinicius para me ensinar só a pensar e sentir, sem tentar entender, deixando à poesia as palavras. Dançaria salsa em Cuba para causar-lhe ciúmes. Correria o Central Park de Manolo com solas virgens para dizer que o amo por todos os cantos de Manhattan. Ofereceria a você, mil vezes, o verde mar do Embaú, mais belo que todo o Pacífico. O ápice do Embaú de altitude, seria o ponto de partida para nossos sonhos. Seriam suas todas as minhas idéias e desejos, ouviria cada um dos seus, permitiria, porém, sempre que seus olhos pedissem, que a casa se enchesse de nosso silêncio cúmplice. Far-lhe-ia entender que só poderia ser por mim seu primeiro sorriso sob o sol e o noturno peso de seus olhos. Seus sonhos serão sempre meus. Meus sonhos serão sempre seus. Somos nós, é você, sou eu.