terça-feira, 22 de setembro de 2009

Juro que ainda acredito e respiro. Mas dói, confunde, paraliza.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pseudo-poética

"Mas tu, Poesia Tu desgraçadamente Poesia

Tu que me afogaste em desespero e me salvaste

E me afogaste de novo e de novo me salvaste e me trouxeste

À borda de abismos irreais em que me lançaste

e que depois eram abismos verdadeiros"




Lendo Leminski, ouvindo jazz, pensando Vinícius, sentindo Clarice, vivendo Hilda. São tantos e eu o que sou? O que fiz de mim nessa desconstrução do que seria se tudo fosse outro, se eu fosse outra e construísse, ao invés de apenas tentar embelezar o que já está feito, se criasse e não rebordasse o óbvio, o nulo, o pequeno. O que fiz de mim senão a sombra de tantos desejos que eu não tinha e tantos medos que hoje tenho? Para onde devo ir senão lugar algum, já que cá estou e nada dentro de mim grita de modo que eu possa ouvir? Ou já cessaram os gritos tantas vezes ignorados pelo conforto risível da nulidade primorosa. Agora quero ir correndo, sem caminho talvez, pois os que havia, e eram tantos, ficaram para trás, aí pelas paragens. Conservo, ainda assim, o hábito nocivo da sombra salvadora que nada faz senão embotar ainda mais minha já difícil caminhada. O que pretendo de mim é o que não sei ser pois, por Deus, eu seria se o soubesse, mas não devo saber porque construí a fraqueza de onde havia força. Sei que olho ao redor e vejo-me só entre música e poesia, entre gênios e ícones e sou eu o que em meio a isso? Sombra como a sombra em que me escondo. Medíocre poesia velha que não tem mais idade para germinar e teima em pensar que ainda há razão para gritos bardos a essa altura do mundo e dos acontecimentos.


Tento ainda fazer a poesia germinar mas não há ouvintes para o que julgo belo, belo e vazio como foi minha vida fundamentada. Ser amoral em busca de uma moralidade burra, quase esquizofrênica quando não há mais tempo pra nada. Meus sonhos estão perdidos e perdidos para sempre pois nunca soube sonhar sozinha e como haveria de poder fazê-lo agora se nunca soube ser sozinha? Finjo que posso, finjo que sei, mas finjo e ainda assim, penso-me grandiosa pois Pessoa também pensou e era grande, brilhante, gênio, eu, entretanto, sou meramenta pós-moderna e não sou nada pois toda a genialidade do mundo já fora concedida, de modo mais ou menos justo, a seus criadores, agora sou cópia de tudo o que eu queria e tudo o que eu rechaçava; mas eu, eu mesma, sou coisa alguma. Esboço malfeito de todos os meus propósitos. Massa frustrada e cansada, sombra incolor.

Fragmento de caos II

Manhã cinza, cor da cidade e de minha alma sem paz. Sinto frio, muito mais do que a temperatura amena, muito mais que a garoa, sinto frio e minha pele se arrepia apesar do ar quente que quase faz suar quando me protejo do mundo dentro da cápsula de metal vermelho onde habita minha alma em seus momentos mais ruidosos. O frio se dá como um bloqueio, inexplicável, embotamento dos desejos. Até dos desejos. Tento fazer-me sublime mas sou humana e com ressalvas. Não sei se gosto de adorar-me mundana. Não sei se gosto mesmo de inúmeras coisas que tenho vontade (ou talvez meramente cobice...). E ao ouvir que vivo de caprichos, como exaltar-me ou negar (por capricho...).

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

The thing is: writing doesn't go with portuguese wine at all. And maybe I am not going with lots of things in my life. Sometimes I ask myself what am I doing, sometimes I know or I pretend to... I'm sure that I'm really working succesfuly in my spiritual development... I don't know anything.
So: if you're going to write, don't drink.

Fragmento de caos

Não, não sei. Não sei e não entendo uma porção de coisas que finjo saber e entender e parto para o universo racional cunhado por mim de modo demagógico. Nem sempre, por vezes a minha razão é pura, em geral isso se dá quando envolve outras pessoas. Hoje pela manhã contava a meu oxigênio o conflito que há em mim, será que devo ser o que sou, será que sei ser quem sou, quem sou?

Drops

Pensando aqui com meus botões e uma taça de vinho português nas ideias desenvolvidas nas últimas horas, após o indizível brain storm compartilhado com interlocutor brilhante, aliás, o interlocutor é essencial e disso não tenho podido reclamar. Há inúmeros aspectos oriundos da conversa de hoje e de outras recentes a serem abordados, possibilidade de começar a discorrer sobre desejo, religião, fé, ignorância, neste momento, porém, não sei por onde começar. Penso em Leminski para iniciar a reflexão, Baudelaire para seguir, fechar com Safo talvez... passear pelo universo. Vou ao mundo depois volto.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Das escolhas

Dias atrás, ouvi uma amiga querida dizer para sua filha de 3 anos que quem escolhe se terá um dia bom ou ruim é ela mesma. Ok, a lógica é perfeita, mas quem nos ensina a escolher? Se nós aqui do alto de nossa maturidade intelectual fazemos tantas escolhas estúpidas, como uma criança saberá fazê-las de modo acertado? Um tanto maldito esse livre-arbítrio, não? Podemos procurar o caminho que desejarmos, podemos tudo, mas o que isso resolve se, por vezes, o caminho que escolhemos para ir ao trabalho pela manhã não era a melhor opção e, por essa escolha, chegamos atrasados, perdemos o prazo do job e ficamos em maus-lençóis? E nada disso aconteceu porque saímos atrasados pois dormimos até mais tarde por causa da esbórnia da noite anterior. Não. Dormimos no horário normal, simplesmente estávamos ali, preparados para nossa rotina e fizemos uma escolha errada, comigo isso ocorre toda manhã: 23 de maio ou Nove de julho? Juro por Deus que me perco nesse impasse diário. Sofro mesmo,creiam. Fico, então, pensando naquelas pessoas cronicamente indecisas e, sim, elas tem muita razão, a indecisão é a lucidez realizada! Não quero dizer aqui que essa postura é invejável, tampouco concordo com ela, mas é lúcida. Ao efetivar nossas escolhas, ficamos, ainda que por um átimo, cegamente apaixonados e depois não há como voltar atrás: aquilo já foi feito. Poderemos, depois, tentar outra coisa, remediar a situação, mas aquela escolha, aquele preciso momento que nos levou a escolher a bela torta de gianduia e não o crème brûlée; que nos levou a dizer sim para essa pessoa e não para aquela, que nos fez optar por uma viagem para a Disney ao invés da festa de quinze anos não voltará mais, nunca mais. Seguindo minha insana linha de raciocínio, vamos lá, argumentos: "e se eu quiser experimentar a torta de gianduia? Não gostando, peço o crème brûlée e pronto!" Pois muito bem, se pedi-lo após a torta, ainda que um único bocado dela, suas papilas gustativas já estarão poluídas e não o saborearão como seria se ele fosse a única sobremesa. Desculpe, nesse jantar a escolha foi feita. "É melhor fazer a festa de quinze anos e deixar a Disney para depois, uma vez que há a vida toda para uma viagem." Certo, mas e o prazer de visitar a Disney aos 15 anos - mesmo porque, se tudo der certo com a sanidade mental da criatura, aos 16, a terra do Mickey já estará definitivamente fora dos destinos almejados - e agora, falando de pessoas, deuses! essa é a mais difícil: tudo pode acontecer! Opções, decisões, qualquer coisa pode dar certo ou errado, qualquer coisa pode ser ou não, o fato é que perderemos sempre. Em toda nossa vida, ao escolher, perderemos. Então volto a minha amiga e sua amada filha: sua mãe tem razão, amor, você escolhe como vai ser seu dia, mas não se frustre se a escolha for errada, será mesmo, com muio mais frequência do que gostaríamos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Lucíola

"Incompreensível mulher!
A noite a vira bacante infrene, calcando aos pés lascivos
o pudor
e a dignidade, ostentar o vício na maior torpeza do cinismo, com toda a hediondez de sua beleza.
A manhã a encontrava tímida menina, amante casta e ingênua,
bebendo num olhar a felicidade que dera, e suplicando
o perdão da felicidade que recebera."
(José de Alencar)




As revoluções aconteciam sem que a humanidade pudesse controlá-las. Era uma época difícil em que vagávamos um tanto tontos pela vida imersos em planos e metas de proporções estratosféricas, movidos pelo desejo em todas as suas formas. Andávamos por ali consumindo a vida e a nós mesmos como fantoches pseudo-libertos. Caminhávamos, ou melhor, corríamos, e até sabíamos a direção, mas faltava propósito, aquele apaixonado propósito revolucionário que conhecíamos bem das referências históricas e dos desejos utópicos, vez ou outra, vinha alguém dizer que estava lá, acreditávamos pois duvidar não tinha o menor cabimento.

Em um desses dias, plenos do vazio sistemático da lógica contemporânea, ela apareceu e disse conhecer o amor. Como acreditaríamos naquela mulher com olhos de menina que sorria com lágrimas nos olhos ao falar de seus sonhos e admitia o paradoxo de amar e sofrer com tamanha naturalidade e resignação que a dor tornava-se bela? Como duvidar da languidez mais forte e profunda que qualquer olhar poderia carregar? Naquele dia, apaixonamo-nos novamente por nossas vidas, por nossas histórias, por nossos amores. Ela sorriu e partiu. Retornava aos braços de seu velho conhecido. Retornava, satisfeita, a seu lugar, a seu destino. C(h)ega de tanta luz.(!)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Reforma ortográfica

É interessantíssimo como, por conta de meu trabalho, as pessoas procuram-me cheias de dúvidas a respeito das novas regras da ortografia oficial, dizem ficar receosas ao escrever pois pode haver algum detalhe que tenham deixado passar. Minha resposta é sempre a mesma: não se preocupem, elas serão absorvidas naturalmente. De fato, não me preocupo. Sei que, se necessário escrever oficialmente, bastará consultá-las, fora isso, deleito-me em meu direito de relaxar. Sempre achei charmosíssimos os clássicos manuscritos de meu avô, revisor por mais de meio século, brilhante intelectual, que conservava as flôres que amava, por isso sinto-me livre para, fiel a uma doce memória de infância, conservar nosso vôo ao escrever para quem amo.

Don´t blame it on the good times

Era o plano para minha próxima tatuagem: uma silhueta black-power dançando dentro de uma estrela, acompanhada da frase " Blame it on the boogie", talvez nas costas para que as pessoas realmente vissem e uma ou outra, talvez intrigada com o motivo daquela composição fazer sentido para mim, perguntasse o porquê. "É porque Michael faz sentido." E essa música prova minha teoria. Cada um de nós tem seu boogie, a princípio nos desagrada, sentimo-nos um tanto forçados, desconfortáveis, depois aquilo nos toma de tal maneira que precisamos nos entregar e perdemos o controle. Mas não parecia ser algo ruim, eu lembro, agora sei lá de mim e é tudo culpa desse incrivelmente maldito boogie. Visionária essa letra, não? Ou será que Michael faz tanto sentido que guiou a trajetória de sua vida por um de seus primeiros grandes sucessos, ainda menino, Jackson 5? Nós seres-humanos - pasmem, ele também era- fazemos isso com muito mais frequência que imaginamos, não fosse assim, as clínicas de psicólogos, psicoterapeutas e afins não estariam aí multiplicando-se aos bandos para resolver os traumas que nos impedem de evoluir ou, porque não, de crescer. Quantos e quantos de nós não construímos uma Neverland interior e decidimos continuar exatamente iguais para sempre? E fazemos uma tonelada de coisas idiotas por dia, somos imprudentes, sim, se não seguramos um bebê janela afora fazemos parecido e, se nunca fizemos, já vimos muitos fazerem. Dirigimos bêbados e isso é normal! Foi preciso uma lei para acabar com a palhaçada que, no entanto, também virou palhaçada. O cara era desequilibrado? Evidente que sim, alguém já viu um grande gênio normal? Uma vez que ser normal é seguir normas sociais impostas é impossível ser normal e absurdamente criativo e inovador ao mesmo tempo. E, vamos lá: nós não somos desequilibrados, não? Aí o moço ficou bege, branco, cinza; mudou o nariz , o queixo, o cabelo, ficou deformado; entupiu-se de analgésicos e morreu. Algo diferente do que vemos por aí? Nunca vi tanta gente que já foi bonita um dia destruída por plásticas e similares mal feitos ou feitos em excesso. Rémedios para amenizar qualquer espécie de dor? Quem nunca tomou que atire a primeira pedra. Morrer é consequência, isso é tranquilo. Aí ele teve casamento conturbado, sexualidade conturbada, foi ter filhos da enfermeira e foi pai solteiro. E? Sinceramente, conheço dúzias de pessoas que fizeram ou fazem todas essas coisas ou pelo menos bem parecido e não mudaram o panorama da música mundial, não se fizeram conhecidas universalmente por um talento impecável, não deixaram um legado sublimar, não construíram um mito com todo direito a sê-lo. Seja Michael louco, inconsequente, estranho, infeliz, seja Michael o que for, ele foi intensamente humano, daqueles que deviam nos encher de orgulho ao utilizar tudo o que tem de genialidade e se lançar ao mundo de peito aberto. Essa talvez seja a questão: peito aberto. Blame it on the boogie.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pseudo - concretismo

"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."
(Mário de Sá Carneiro)

Percebo-me mergulhada em experiências líricas e ferida pelo concreto. O amor resolve a alma mas é poroso demais para solucionar a vida toda. Assim também segue a poesia. Entendo que preciso caminhar pelas pedras, sentir o chão firme sob meus pés, construir minha estrada. O universo prático convoca-me a recriar o que sou, uma nova personagem. Teimo em acreditar nas novelas de cavalaria, já é hora de entender que há quase nada de medieval em mim ou, pelo contrário, avaliar minha relação com as moças queimadas nas fogueiras: minha idéia endureceu e o dia amanheceu nublado. O céu azul se foi, talvez por ter-me feito entender que devo saber seguir só. Minhas alfazemas cresceram buscando o sol, entortaram suas frágeis hastes mas agora o astro se foi e elas precisam prosseguir. Ele voltará na próxima estação, até lá, qual a direção? Elas devem saber pois suas folhas ainda perfumam, seria esse o caminho? Ainda acredito no amor e na poesia: minha alma precisa deles. Mas minha vida precisa de mais. É grandiosíssimo possuir a alma lírica e essa sinto minha, nesse momento, entretanto, o corpo faz falta, a parte real que ajuda na pavimetação. Compreendido isso, tudo fica mais claro e menos belo. O coração desarmado dá lugar a mãos guerrilheiras. Minha doce clausura de princesa começa a ruir. Daqui para frente, sou eu, como sempre fui de fato, mas nunca quis ver apesar dos avisos. Nada é por ninguém, nem erros, nem acertos, nenhuma decisão: tudo é por mim. Implacável, a realidade salta diante de meus olhos e prova que só o que pertence a ela é o que de fato existe, todo o resto é o escapismo tão necessário quanto uma taça de Bordeuax após um duro dia de trabalho ou férias em Paris coroando um ano cheio. Sim, pode-se mudar a realidade e encontrar prazer em um cacho de uvas no café da manhã ou degustar Villon em um dos museus da cidade. A questão é definir o que realmente queremos. Se quisermos. O céu, porém, começa a se abrir novamente, revelando sua imensidão azul.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tentando sentir...

terça-feira, 23 de junho de 2009

terça-feira, 16 de junho de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

Minha vida

É tudo o que quero. É onde quero estar. Todo caminho tem percalços. Eu sei como buscar força, posso encontrar coragem. Sou eu apenas, nada fere ou agrada a ninguém mais que a mim. Há tempos procuro o chão, começo a senti-lo sob meus pés e novamente consigo imaginar rotas. Aos poucos, bem aos poucos, tudo vai ficando claro, assumindo seus contornos originais, sem a aura monstruosa que eu mesma desenhei por medo ou vergonha. Não há vergonha: quem quiser ver que o faça, não convidei ninguém, tampouco prometi um espetáculo bonito e fracassei, ficaram por vontade e, se esperavam algo, não cabia a mim concretizar, é legítimo esperar qualquer coisa mas é um risco ( Beta de 8% ao ano). Sendo assim, liberto-me dos investimentos alheios e assumo o ônus dos meus. Entendo que é só o que posso fazer e tudo fica mais simples. Continuo arriscando alto, risk lover inveterada, mas se não creio no amor não respiro, é assim que sou e começa a fazer sentido não precisar ser diferente. Amo, arrisco, e sigo inconstante, mas a alma vai se acertando, o amor acerta.

domingo, 24 de maio de 2009

Blá Blá Blá É mesmo um dos sete

A preguiça afasta do reino dos céus? Só para saber...pois o problema aqui é inspiração...



O vídeo não é exatamente uma pérola mas a música é sensacional e faz muitíssimo sentido. Talvez os que busquem decifrar minha alma tentem entender, certamente os que a aceitam como é, entenderão.
Ainda há tanta coisa... mas há também o silêncio ( e o vinho português). Deixo para depois mais uma vez, mesmo porque Renato já disse por mim.




http://www.youtube.com/watch?v=8LwevgNPbzc

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sem efeito

Ceder ou render-me? Nada por aqui faz muito sentido e, claro, compondo a tradição paradoxal que permeia minha existência, o que faz sentido não está aqui, ou está bem perto mas se apresenta de modo tão inusitado que fica difícil enxergar. Difícil e óbvio no mesmo instante. Não quero dizer com isso que o óbvio não seja difícil ou que o difícil seja, na verdade, simples porque é óbvio. Só não é fácil ver o óbvio porque é simples, ou é difícil ver o simples porque é óbvio? Aí chego a um ponto onde o meu grande e doloroso dilema remonta mote de propaganda de bolacha. E percebo que há uma platéia lotada para assistir o drama ou comédia, inacumuláveis entre si. Que diabo! Nada faz sentido e ainda assim há tantos espectadores. Parece novela daquela senhora que vilipendiou toda uma cultura para caber no horário das 8 com bastantes intervalos, horário nobre... deve ter sido vendida muita bolacha nesse espaço. Na época devia ser outra cultura respeitabilíssima - óbvio isso, não?- que descia pelo ralo do pão e circo. O ponto é que tudo dá no mesmo: a propaganda de bolacha já ficou perto do óbvio de novo e a idéia do circo esclarece a dúvida supracitada... agora ocorreu-me a lógica da resistência elétrica... e eu não sei se ainda consigo acompanhar e o raciocínio é meu...penso que é um momento apropriado para encerrar o dia.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Entende?

"Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea."

(Carlos Drummond de Andrade)
O telefone móvel chamado está desligado ou fora da área de cobertura. Tente novamente mais tarde.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Bilhete de amor à muitíssimo-mais-que-amiga distante

Amor de minha vida,

Infrutífero tentar explicar a falta que sinto de seus olhos doces.
Você compõe minha estrutura, o DNA de minha alma.
Ansiosa por seus relatos e sensações.
Um tanto perdida neste hemisfério.
Encante o mundo.

Amo-te, profundamente.

sábado, 18 de abril de 2009

Saravá hermanos.

Vínicus. Toquinho. Bethânia. Oxum. Iansã. Vinícius.
A bênção a todos os que me são caros e não duvidam. A bênção à cidade luz, à tradição celta, ao Mar del Plata, à América do Norte, ao interior de São Paulo, ao sertão da Bahia, à megalópole. A benção à possibilidade de reunir todos esses lugares. A bênção aos brilhantes. A bênção aos inteligentes. A bênção aos esforçados. A bênção aos de belos olhos e voz hipnótica . A bênção aos de refinada oratória. A benção aos que transformam o mundo. A bênção aos vermelhos. A bênção aos destros. Mudando de assunto, a bênção aos canhotos. A bênção ao Amor. Saravá.
É assim...

"Senão é como amar uma mulher só linda. E daí? A mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade, um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão."

http://www.youtube.com/watch?v=pdStj4D28vY

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Por que a Europa fica lá?

"Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento."

( Ferreira Gullar)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Seja como for...

A fissão do núcleo dos átomos gera o calor que aquece a água e essa produz vapor que faz girar uma turbina. O propósito é o mesmo, mas o preço é alto e os riscos extremos. Entretanto, é necessário e a vista é linda. Tão risível quanto o amor pode ser - ou é? Pensei ter mais a dizer mas ficou tão complicado que desisti. Talvez repense quando meu coração voltar a respirar. Deixa pra lá.

"O perigo já passou, os técnicos já foram chamados, não há motivo para alarde. Tomaremos as medidas necessárias. Estamos do lado de vocês."

http://www.youtube.com/watch?v=ZpNTxYtGKCg

terça-feira, 7 de abril de 2009

Extra! Extra! A dor pare poetas!

São Paulo, 07 de abril de 2009.



Mais uma vez, uma ninhada de poetas é parida pela mundialmente famosa Dor. A ilustre senhora, residente à cidade de São Paulo com outras moradas ao redor do mundo, vive com seus parceiros Medo, Culpa, Angústia, Desconcerto e outros que a visitam frequentemente. Não é sabido qual deles assumirá a paternidade dos aedos, discute-se, inclusive, alguma forma alternativa de registro civil. Em pronunciamento, o excelentíssimo senhor ministro interino da comoção global manifestou preocupação com os rebentos e garantiu provisão vitalícia de suporte virtual para o desenvolvimento dos recém- sensíveis, não pôde, entretanto, comprometer-se com o suprimento de subjetividade indispensável ao brotamento bardo. A opinião pública mostra-se comovida com o acontecimento. Outras autoridades trataram com cautela o caso preferindo manter a discrição.

sábado, 4 de abril de 2009

Stormy Weather

"Não esconda a tristeza de mim.
Todos se afastam quando o mundo está errado,
quando o que temos é um catálogo de erros,
quando precisamos de carinho, força e cuidado."


Sabia que conseguiria sozinha mas nesse momento duvidava. Queria apenas ser filha, encontrar olhos ternos e um abraço doce sem perguntas, sem respostas, amor apenas. Queria não precisar ser forte, queria poder chorar três dias e três noites e ouvir apenas a voz calma dizendo que tudo irá passar. Não queria mais chorar de dor. Não queria mais vampiros, precisava ser amada em silêncio. Havia tantas feridas que nem ela mesma podia precisar onde ardia, mas o vento gelado dilacerava a alma, a dor se espalhava por cada milímetro do que ela era e já não sabia mais ser nada. Não encontrava seus discos, seus livros diziam-lhe verdades impróprias. Haveria, por Deus, um milímetro de compaixão no universo? Billie Holiday cantava à sua alma antiga mas o que fazer agora? Sentia vontade de dormir até o próximo solstício, acordar em um longo dia de verão, receber da imensidão azul toda a paz que merecia e uma flor em seus cabelos. Queria ser criança e fazê-los felizes de novo. Sentiu, naquele instante, uma saudade cortante de quem não voltaria nunca mais. Sentiu saudades de quem estava ali, ao alcance das mãos e a fazia sentir só. Amou profundamente os corações que a tocavam a distância. Amou desesperadamente aquele céu de outono. Mas a dor ainda estava lá, talvez Coltrane exorcisasse, talvez o amor a curasse.

domingo, 29 de março de 2009

Reflexão inacabada sobre a hipercorreção

amor: atração afetiva ou física que, devido a certa afinidade, um ser manifesta por outro; atração baseada no desejo sexual; afeição e ternura sentida por amantes; aventura amorosa; afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; calorosa amizade; forte afinidade; a pessoa ou a coisa amada ou apreciada (tb. us. no pl.); comunhão íntima, coesão com o universo; devoção de uma pessoa ou um grupo de pessoas por um ideal concreto ou abstrato; interesse, fascínio, entusiasmo, veneração; demonstração de zelo, dedicação; fidelidade; um deus ou a personificação do amor [Cupido (na Grécia, Eros), Vênus (na Grécia, Afrodite)]

paz: relação entre pessoas que não estão em conflito; acordo, concórdia; relação tranqüila entre cidadãos; ausência de problemas, de violência; estado de espírito de uma pessoa que não é perturbada por conflitos ou inquietações; calma, quietude, tranqüilidade;



E se o amor for simples, apenas? Calmo, retro-alimentado, sem tramas ou trapaças? E se o que vemos for só a verdade, tão genuína que leva à dúvida? E se for a paz que sempre buscamos a essência daqueles olhos sem segredo? E se a imagem de meu sorriso trouxer-lhe luz e o som de minha voz nortear seus passos? E se for meu amor seu único caminho, o desejo mais puro? E se formos nós o destino e a escolha recíproca? E se tudo for assim porque nossas almas se reconhecem e então o amor é simples, leve? Céu de outono. Mar. Imensidão.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Metal contra as nuvens
Sei que vai passar mas, enquanto dói, escolho músicas, encanto o tempo, sobrevivo.
Queria saber explicar, antes: saber verbalizar, mas é tão imenso que meu raciocínio sucumbe e meu coração grita.
Contemplando a inexplicável beleza azul, céu de outono, tudo se torna sonho e eu amo e acredito.
Talvez seja a claridade da manhã, a luz quente desses dias, meu alimento, meu propósito, minha paz.

quarta-feira, 25 de março de 2009

00 às 4

Terminava mais um dia. Outro daqueles inertes em que todas as decisões imediatas e necessárias eram arrastadas para o dia seguinte. O problema é que nesse momento todos os dias pareciam iguais. Tinha o medo, tinha sei-lá-o-quê impedindo-a de seguir seu rumo, ir embora para qualquer lugar, mas ir. O ar viciado a intoxicava, a beleza prometida feria. Já não queria mais acreditar, não podia. Mas alguém entendia? Não, evidentemente, não. Ela não era má nem egoísta, também não almejava a benevolência de mártir:era apenas humana e bastava.
O dia acabou, para onde ir agora? Consultava sua vontade. Não havia vontade. Dentro daquela história, nada mais a pertencia. Sentia profundo desejo de começar de novo. Nada ali seria diferente. Não importava mais. Queria leveza. Queria mais que tudo sua vida. Um novo começo de sonhos só dela. Mas como não se sentir só quando o silêncio cortante da madrugada era a única companhia para suas noites em claro? Precisava do céu profundamente azul, imensidão. Manhãs azuis de outono, em paz, sem dor, sem medo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

I'm glad

É por vocês, por cada um de vocês que sigo acreditando em mim. Tudo faz sentido porque os tenho e amo e consigo, assim, vislumbrar a lógica no caos. Encontrar e reuni-los todos, tão perfeitos, em uma só vida torna possível a utopia, possibilidades infinitas. Dessa forma sou feliz, imponderável: estou feliz no limite do abismo; e o que desejo além disso é muito pouco... talvez todos juntos, em mais um domingo de céu claro após nuvens, inteiros, intensos, com seus sorrisos e suas farpas, com seus olhos que me fazem acreditar. Desejo todos, todos vocês que amo desse modo tão indizível, todos os que estão aqui, por todos os caminhos, a qualquer instante. Sim, são vocês... não haveria de ser mais ninguém. A grandiosidade é absoluta.

domingo, 22 de março de 2009

Se é o preço a ser pago por minha vida, aceito, pago em dobro. Minha vida vale tanto... não há preço, há prece.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sebastiana quebra-galho



Precisa-se encontrar uma boa explicação. Não que faltem motivos ou razões, o problema aqui é convencer. Argumentos são necessários, estratégias conceptistas são bem-vindas. É imprescindível confessar os crimes prescritos apenas para satisfazer o poder inquisidor do júri.
É preciso, porém, delatar despudoradamente, com requintes de crueldade. (Exponha-se. Destile o descontrole. Torne pública sua vergonha. Renda-se ao medo. Convide os vampiros. Mostre fraqueza. Seja desleal. Pueril. Conserve sempre a vileza. Guarde um trunfo e não conte a ninguém. Não confie.)
Sim, eu tenho culpa. Padre, eu pequei. Tenho culpa e preciso de ajuda para ser melhor. Pequei, penitencie-me, preciso encontrar o perdão. Não sei para onde ir, não sei o que estou fazendo, são apenas rompantes, não sei pensar. Veja: não tenho esse sublime equilíbrio, tampouco consigo enxergar a solução obviamente acertada para as dores da alma. Fosse eu um pouco menos descontrolada e paranóica, perguntar-lhes-ia o que fazer, sabidamente consultariam seus manuais para humanos perfeitos e teria uma resposta. Simples, tão simples. Mas, ora, pobre diabo sou eu que não entende, não há como errar. Tudo está pronto, são regras. Não pense, não queira, não ouse. A pós-modernidade é neo clássica, os sentimentos devem ser neo clássicos. Aurea mediocritas. Os problemas vão existir sempre, o que é que você quer, o amor perfeito? Tola, tola e irracional. E agora essa estória de sentir, não suportar, doer... vá cuidar do jantar! Diga-me então o que pretende? Pensa que consegue sozinha? Pobre criança inconstante. Você é fraca, covarde. Precisa tanto desse controle, você precisa, compreende? Sozinha por aí, imagine! Tudo o que lhe é feito é porque você merece. Pare já com essas falas bem construidinhas, com esse léxico pedante tirado dessa tal literatura que não entendo, pensa que sabe mais que eu? Pensa que sabe tanta coisa. E não me venha com essa humildadezinha ensaiada, não. Conheço você, conheço muito bem. Agora, por mais um caprichosinho, princesa, joga tudo para o alto. Tenho eu de ir consertar, tenho eu, mais uma vez, de assumir o controle da sua vida, afinal, se não sou eu você se perde nessa ilusão absurda de felicidade. Não, não dá para falar com você, não dá para explicar nada a alguém assim tão fora da realidade. Chega! Faça uma lobotomia, queime seus livros, analfabetize-se, dê-me aqui essa tal poesia, o amor e toda a santidade, vista um espartilho, peça perdão pelos erros daquele que a protege, peça-me a bênção, beije-me a mão, cubra o rosto e vá para o seu quarto.

terça-feira, 17 de março de 2009

Explosão

Necessária, energia explosiva. Talvez seja a postura mais simples, ninguém exige constante ponderação. Enquanto a cólera é compreensível e perdoável, o equilíbrio precisa ser provado a cada instante. Mas esta sou eu e gosto do que sou. Gosto do silêncio, prefiro sentir sozinha, acerto-me como posso sem barulho desnecessário, sem tensão extremada.
Mas neste momento, neste exato momento Álvaro de Campos traduz minha alma.




NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Após o crepúsculo

Escurece. A razão escurece. Um arrepio irracional domina a lógica inconstante. Por que os medos são tão maiores à noite?
Desde a infância ela nos assusta: temos medo do escuro, dos pesadelos, de ficar só. É seguro o dia, sabemos exatamente o que há em nossa frente, não há mistério, pouco se esconde; pode-se correr em direção ao abismo e parar antes da queda. A luz controla os riscos. A escuridão, porém, catalisa-os. Ali nada é nosso, tudo é segredo e qualquer passo pode encontrar o vazio. No escuro, nossos doces brinquedos tornavam-se monstros; no escuro, nosso futuro perfeito torna-se nebuloso, da escada que a ele conduz só enxerga-se o primeiro degrau, depois dele ascensão, decadência ou abismo são possíveis.
No meio da noite, ouve-se a angústia de uma mulher. Sozinha à beira de seu iminente abismo, ela chora como criança, seu corpo faz-se pequeno, frágil, tentando talvez voltar ao tempo que o medo passava ao acender as luzes. Nunca sentira tanto medo. Todos os caminhos conduziam a incerteza, poderia doer, poderia doer mais e, nesse momento, seu mundo depende dela. Não há algozes, não há culpados, só ela e sua sorte com medo de olhar-se nos olhos.
Dessa vez, ninguém a salvaria. Ela já entendera a distância entre seu mundo e os contos de fadas. Não havia heróis tampouco donzelas a serem resgatadas, nem cavaleiros ou princesas. Havia uma mulher, apavorada diante de uma dor que não podia controlar; diante do amor que não podia suportar.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Verlaine original

En Sourdine

Calmes dans le demi-jour'
Que les branches hautes font,
Pénétrons bien notre amour
De ce silence profond.

Fondons nos âmes, nos coeurs
Et nos sens extasiés,
Parmi les vagues langueurs
Des pins et des arbousiers.

Ferme les yeux à demi,
Croise tes bras sur ton sein,
Et de ton coeur endormi
Chasse à jamais tout dessein.

Laissons-nous persuader
Au souffle berceur et doux
Qui vient à tes pieds rider
Les ondes de gazon roux.

Et quand, solennel, le soir
Des chênes noirs tombera,
Voix de notre désespoir,
Le rossignol chantera.

Verlaine

Em surdina

Calmo, na paz que
difunde a sombra dos altos ramos,
que o nosso amor se aprofunde
neste silêncios em que estamos.

Coração, alma e sentidos
se confundam com estes ais
que exalam, enlanguescidos,
medronheiros e pinhais.

Fecha os olhos mansamente
e cruza as mãos sobre o seio.
Do teu coração dolente
afasta qualquer anseio.

Deixemo-nos enlevar
ao embalo desta brisa
que a teus pés, doce, a arrulhar,
a relva crestada frisa.

E quando a noite sombria
dos carvalhos for baixando,
o rouxinol a agonia
da nossa alma irá cantando.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

**


Tenho tanto a dizer e tanta saudade que simplesmente não consigo. Amo tanto minha vida quero tanto. Sempre tive dúvidas, sempre tive medo. Hoje tenho certeza, sei onde chegar, ou mesmo onde devo estar esperando minha vida. Sei que jazz me faz especie, bossa- nova me faz humana. Sei que conto os dias para ter de volta minha vida. Saudades cortantes.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Por alto...




Os passos apressados começam a ensurnar*, diminuo o ritmo, jazz n'soul. Encontro em mim espaço para um silêncio que supera em volume qualquer ruído do mundo. Sinto-me sozinha em meio a multidões de desconhecidos e olhares conhecidos. Passo a observar a beleza profunda das coisas, como gosto de fazer. Tenho tempo para isso. Não desejo o mundo, quero apenas o que é belo e possa, em algum grau, pertencer-me. Por vezes me esqueço de minha natureza telúrica e canso-me tentando pertencer ao mundo que fala demais, corre demais e pensa pouco, sente pouco. Prefiro contemplar, sem dizer, sem razão. Deixo-me arrepiar por Klimt, Kalo emociona-me, sorrio e acredito.
Penso em minha vida e entendo que nunca em toda minha existência quis algo tão ardentemente.
Desejo indizível de viver-me, em detrimento a tudo. Desejo imenso de buscar o olhar mais profundo de minha vida e entendê-la de modo cabal como meu único caminho porque sem ela não respiro, perco o chão, perco a vontade. Preciso vive-la, inteira, pois assim é cobrado por minha alma todos o dias, de cinco em cinco minutos. Saudades de casa, saudade dos sonhos, saudade profunda de meus amores que ficaram. Saudade extrema de minha vida. Sei o que quero, e não quero nada além dela.

Aos presentes que recebi do universo: é absolutamente necessário tê-las por perto; amo profundamente.

* Ana Choueri - todos os direitos reservados.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

I don't like cities but I love New York.


Esforço em vão tentar explicar essa cidade, nada por aqui é feito para ser entendido. A cidade é sinestésica. Sons, cheiros, texturas, cores, intensidades que rompem as amarras de ceticismo patriota e encantam até niilistas. Estreitos paradoxos enfrentam-se num caos profundamente ordenado onde passos rápidos e frenéticos seguem perfeitamente cadenciados. Linha de produção, economia de mercado, grande irmão, Big Apple. De repente, trumpete no parque, Ella em um café, jazz na esquina, no meio da calçada, no restaurante, na happy hour. A cidade, cansada, rende-se a arte, ainda que mercadológica. A cidade cansada não se rende. Eu, cosmopolita tropical, rendo-me cansada de sentir Nova York e só me resta a energia para poucas linhas mal- escritas. Ao mesmo tempo que, aos pés de Lady Liberty, a indizível saudade de minha vida doeu mais fundo que o vento cortante dessa manhã. Entendi que preciso, agora, busca-la perfeita como é e viver intensamente cada medo, cada sorriso, cada sonho. Pois é assim, minha vida, existência única no amor, princípio e fim, luz e treva. Paradoxo, amor, minha vida.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Inexorável

Existir
Amar
Ir... ...Ir
Amar
Existir

Tema central. Por toda minha vida, desesperadamente.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Exercício de pavor fonológico

(Tom com toques de Chico)

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol
E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano
O seu nome eu não sei
Esqueci no piano
As bobagens de amor
Que eu iria dizer
Não, Ligia, Ligia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um chope gelado
Em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome rasguei
Fiz um samba-canção
Das mentiras de amor
Que aprendi com você
Ligia, Ligia

Você se aproxima de mim
Com esses modos estranhos
E eu digo que sim
Mas seus olhos castanhos
Me metem mais medo
Que um raio de sol
Lígia, Lígia.

Silepse

Noite fria de verão, a mesma cidade, o mesmo lugar onde havia crescido e tudo era familiar. Há pouco estivera com pessoas queridas com as quais não crescera, mas poderia. Todos sorriam, seguiam suas vidas e entendiam. Ela também sorria e seguia, mas era difícil entender. No caminho para casa, tentava pensar no que pensara enquanto se fazia feliz sem saber: nada. Talvez só assim seja possível a felicidade. Agora ela pensava, como estivera pensando naquela tarde e em tantos outros momentos quando sentia cinza o céu sobre seus olhos.
Alguns dias atrás, estava certa de seus planos. Não sabia exatamente qual seia o próximo passo, mas sabia onde estava e aonde seu sonho a levaria. Sabia e amava. A certeza a fazia viver, respirar. Mas parecia que algo havia mudado, não era ela, parecia que a órbita do mundo havia de repente se deslocado para algum lado ( direito ou esquerdo?) e, por mais que ela desejasse permanecer no mesmo eixo, todas as verdades que lhe haviam contado se afastaram e não podia mais tocá-las.
Sozinha com a madrugada tentava escutar seus pensamentos, desejava compreender a lógica desse estranhamento. Não encontrava vítimas ou algozes, não procurava conforto para o ego. Simplesmente não encontrava razão no mundo concreto. Entretanto, seu universo tremia em um quente inverno caótico.
Sentia frio, sentia medo, sentia dúvida. Percebeu, ali, o quanto a dúvida dói quando sentida: não a produzimos, não a controlamos, não é espelho de nossas inseguranças, vem de outro, fere e não há o que possamos fazer pois não alcançamos, não entendemos.
Naquele momento, perdera-se em si mesma, na profundidade inestimável do amor que ampliava limites. Não sabia o que separava a verdade do desejo, não sabia pois as dúvidas não eram dela. Nada sabia, apenas amava e esperava ardentemente que lhe fosse dito o que fazer, para onde ir. Ela sabia recuar e sofrer em silêncio. Sabia, porém, amar acima de tudo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Target

Algo dentro de mim protesta contra os fatos, algo dentro de mim reclama o direito de brilhar, algo dentro de mim sangra e não entende, algo dentro de mim simplesmente não sabe mais e deseja tanto. Talvez meu coração... minha vida.

(Noite longa de buscas e entendimento, respostas à luz da manhã...)