quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Exercício de pavor fonológico

(Tom com toques de Chico)

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol
E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano
O seu nome eu não sei
Esqueci no piano
As bobagens de amor
Que eu iria dizer
Não, Ligia, Ligia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um chope gelado
Em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome rasguei
Fiz um samba-canção
Das mentiras de amor
Que aprendi com você
Ligia, Ligia

Você se aproxima de mim
Com esses modos estranhos
E eu digo que sim
Mas seus olhos castanhos
Me metem mais medo
Que um raio de sol
Lígia, Lígia.

Silepse

Noite fria de verão, a mesma cidade, o mesmo lugar onde havia crescido e tudo era familiar. Há pouco estivera com pessoas queridas com as quais não crescera, mas poderia. Todos sorriam, seguiam suas vidas e entendiam. Ela também sorria e seguia, mas era difícil entender. No caminho para casa, tentava pensar no que pensara enquanto se fazia feliz sem saber: nada. Talvez só assim seja possível a felicidade. Agora ela pensava, como estivera pensando naquela tarde e em tantos outros momentos quando sentia cinza o céu sobre seus olhos.
Alguns dias atrás, estava certa de seus planos. Não sabia exatamente qual seia o próximo passo, mas sabia onde estava e aonde seu sonho a levaria. Sabia e amava. A certeza a fazia viver, respirar. Mas parecia que algo havia mudado, não era ela, parecia que a órbita do mundo havia de repente se deslocado para algum lado ( direito ou esquerdo?) e, por mais que ela desejasse permanecer no mesmo eixo, todas as verdades que lhe haviam contado se afastaram e não podia mais tocá-las.
Sozinha com a madrugada tentava escutar seus pensamentos, desejava compreender a lógica desse estranhamento. Não encontrava vítimas ou algozes, não procurava conforto para o ego. Simplesmente não encontrava razão no mundo concreto. Entretanto, seu universo tremia em um quente inverno caótico.
Sentia frio, sentia medo, sentia dúvida. Percebeu, ali, o quanto a dúvida dói quando sentida: não a produzimos, não a controlamos, não é espelho de nossas inseguranças, vem de outro, fere e não há o que possamos fazer pois não alcançamos, não entendemos.
Naquele momento, perdera-se em si mesma, na profundidade inestimável do amor que ampliava limites. Não sabia o que separava a verdade do desejo, não sabia pois as dúvidas não eram dela. Nada sabia, apenas amava e esperava ardentemente que lhe fosse dito o que fazer, para onde ir. Ela sabia recuar e sofrer em silêncio. Sabia, porém, amar acima de tudo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Target

Algo dentro de mim protesta contra os fatos, algo dentro de mim reclama o direito de brilhar, algo dentro de mim sangra e não entende, algo dentro de mim simplesmente não sabe mais e deseja tanto. Talvez meu coração... minha vida.

(Noite longa de buscas e entendimento, respostas à luz da manhã...)