terça-feira, 8 de julho de 2008

Grey shoes

Quero um par de sapatos cinzas para o dia de meus anos. Preciso de sapatos cinzas que combinem com o belo vestido que ganhei de minha mãe. Ele me acompanha a busca dos sapatos cinzas. Encontraremos todos os nossos amigos em um lugar interessante e divertido. Meus pais também vão. Gostaria de organizar um jantar regado a vinho branco para eles todos, mas ficaria mais complicado, dinheiro, desordem, não teremos tempo, o bar é mais prático. Concordo , mas quero um par de sapatos. Ele vai comigo. Penso que, talvez, seja isso o casamento. Ele não quer efetivamente passar uma bela tarde de sol em um feriado procurando sapatos, menos ainda sapatos cinzas, menos ainda sabendo que, para combinar com o vestido estranho que minha mãe me deu, há um par de sapatos roxos em meu armário onde não cabe mais nenhum par de sapatos. Ele sabe disso porque eu disse que havia sapatos roxos, outra cor pouco ortodoxa para sapatos, eu jamais reclamei a falta de espaço em meu armário.Ele tem sapatos pretos, marrons e beges, uns dez pares, usa quatro, os outros estão meio ralados, entendo a incompreensão de minha necessidade de sapatos cinzas, roxos, verdes, prateados, dourados, amarelos, vermelhos, envernizados, muitos dos quais possivelmente serão usados apenas uma vez. Mas ele vai comigo. Procura os sapatos que não existem no mundo real, como tudo o que eu busco. Ele está a meu lado. Seria isso o amor? Gastar seu dia procurando algo de que você não precisa e sabe que, efetivamente, o outro também não precisa e, correndo de encontro ao pensamento minimamente racional, sabe que há uma chance em mil de encontrar? Sei que a paixão não é isso. Apaixonados, nunca pensamos que não precisamos do que o outro quer, muito menos achamos que não é estritamente necessário a ele. Apaixonados, acreditamos que tudo o que o outro pensa ou deseja é pleno, irretocável e indiscutível. Ele já pensou assim, já agiu assim, já foi apaixonado, apenas. O amor é diferente. Amando, conseguimos aceitar as atitudes e decisões do outro mesmo que discordemos delas. Conseguimos participar das coisas importantes para o outro, mesmo que aquilo nada signifique para nós e, mesmo distantes, partilhamos nossos mundos. Quando amamos, desgostamos de infinitas coisas e, ainda assim, entendemos. Por amor, passamos tardes buscando sapatos cinzas e uma eternidade desejando as melhores coisas do mundo a ele, a mim. E fazemos nosso os nossos sonhos, dedicamos a ele, nossos projetos. Aceitamos, acreditamos e lutamos por doses de felicidade, ao menos diárias. Por todos os dias de nossa vida.

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